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Depressão nos atingidos por rompimento da barragem de Brumadinho é 5 vezes maior

Brumadinho
Tragédia da Vale em Brumadinho(Amanda Dias/BHAZ)

O rompimento da barragem do Córrego do Feijão, pertencente à Vale, em Brumadinho, age nos atingidos como uma cicatriz aberta. O desastre, que, nesta quinta-feira, completa 5 anos ceifou a vida de 272 pessoas e despejou resíduos de minério por toda a bacia do Rio Paraopeba. No município, tudo lembra aquele dia – ir à padaria, a um restaurante, ver os trabalhadores que atuam na reconstrução de partes da cidade, tudo.

Os traços do desastre ainda são claros na população – até 2022, atingidos registravam cinco vezes mais incidência pontual de depressão do que a população em geral. Três a cada dez (29,3%) ainda apresentavam sintomas, enquanto na população em geral é de cerca de 6%. Além disso, 22,9% ainda sofriam com transtorno pós-traumático, 18,9% com sintomas ansiosos e quase todos ainda convivem com a lembrança das perdas que ocorreram com a tragédia.

Os piores cenários foram encontrados em mulheres, idosos, moradores da área mais próxima à mineração e pessoas com escolaridade de nível médio.

Os dados são de uma pesquisa coordenada por professores da Universidade Federal de Minas Gerais, da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acompanham os impactos da tragédia na saúde mental e saúde geral dos atingidos desde que houve o rompimento da barragem.

A coleta das informações foi feita por meio de entrevistas entre os meses de junho e dezembro de 2021 com 2.740 moradores adultos da cidade. O projeto vai durar ao menos dez anos.

Professora do Departamento de Saúde Mental da UFMG, Maila de Castro, que faz parte do grupo, explica que dentre as principais razões para a alta dos transtornos psiquiátricos na população, estão a perpetuação da falta de reparações, medo de novos rompimentos, associação a condições estressoras, insegurança alimentar, descriminação e falta de perspectivas.

“É como se fosse uma cicatriz. A gente já viu isso em outras situações de grande tragédia. Algumas pessoas sofreram coisas parecidas após o 11 de setembro, e em Fukushima. A literatura médica é clara nesses casos. Não é novidade da tragédia de Brumadinho”, narra.

“Não tem uma cura, tem uma elaboração, a tragédia vai fazendo parte de uma identidade da comunidade, que vai se reconstruindo em torno daquilo. Mas é importante que a coisa não seja esquecida, que as pessoas tenham reparação justa, que sintam que as autoridades tenham postura”, afirma a pesquisa, ressaltando que o ciclo traumático está longe de ser encerrado, uma vez que as perdas foram numerosas.

“Estamos adoecidos”, conta Alexandra Andrade, tesoureira e ex-presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), que perdeu o irmão em 25 de janeiro de 2019.

“Aqui ainda tem muito familiar de vítima. Vamos em um lugar para distrair e encontramos um familiar de vítima, lembramos dos nossos, aonde vamos o dia 25 e a falta deles estão com a gente. Todo dia, quase toda hora encontramos a tragédia. Tudo remete ao dia 25”, lamenta, acrescentando que é preciso ter um fim no processo de reparação. “O que puder fazer para agilizar o processo para vermos o depois é muito importante. Toda vez que se fala em reparação para o familiar é muito doído”.

E as memórias do que foi Brumadinho o leva a sair da cidade, a procurar se distanciar do que a cidade virou após o rompimento da barragem. “Muitos se mudaram por causa da memória. As famílias se afastaram. Enquanto meu irmão era vivo, eu via minha sobrinha quase todo final de semana. Agora, que acharam melhor ela ir morar em Belo Horizonte, para não ter memória da tragédia, vejo uma vez por mês, ou a cada dois meses. Tudo isso aumenta nosso sofrimento”.

Em nota, a Vale afirma que “assumiu um compromisso com a Reparação, adicionalmente ao pagamento das indenizações e ao cumprimento dos acordos judiciais” aos atingidos. “A Vale ofereceu apoio psicossocial com atendimentos individualizados às famílias elegíveis por um profissional especializado, por meio de escuta ativa e empática, através do Programa Referência da Família. Quando houve demanda para intervenção ou atendimento psicológico clínico, foram realizadas orientações, articulações e encaminhamentos para a rede pública e/ou privada”, diz a nota.

“O Programa foi implementado em 2019 e até 2023 foram acompanhadas cerca de 600 famílias com a realização de 60 mil atendimentos, em Brumadinho. O acompanhamento de apoio psicossocial buscou contribuir no restabelecimento da autonomia e reorganização dos meios e modos de vida das famílias. Foi realizado também Termo de Cooperação com Brumadinho para fortalecimento de políticas públicas na área de saúde e desenvolvimento social. Também foi implantado o Programa Ciclo Saúde, que fortaleceu a Rede de Atenção Básica em Brumadinho. Foram capacitados 345 profissionais da área de saúde e 1.480 equipamentos foram entregues para todas as 36 Unidades Básicas de Saúde do município”, completa o texto.

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