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Escritor Fernando Sabino completaria 100 anos neste Dia das Crianças; conheça sua história e legado

Fernando Sabino faz 100 anos nesta quinta-feira (11) Foto: Arquivo pessoal

Cá e acolá nasce um arco-íris: ele acontece quando tempestades se formam, guerras eclodem e a filosofia de toda uma geração rompe com os totens fundamentais da anterior. É ainda mais profundo quando surge um arco-íris como Fernando Sabino – “Tinha tanta obsessão que andava na rua e trombava no poste no caminho (enquanto lia)”, conta o filho do escritor, Bernardo Sabino. O autor, que nasceu há 100 anos em Belo Horizonte, transformou o modernismo efervescente no Brasil, o existencialismo pujante no mundo, especialmente inspirado nas obras de Jean-Paul Sartre, as guerras que catastrofizaram o planeta e uma mineiridade ainda em formação, em uma língua própria – desenhando com as palavras simples o espelho que enxergava na capital mineira.

Bernardo Sabino conta que o pai era “obcecado” com leitura e escrita. “Era um cara que se obrigava a escrever de forma simples, quase oral. Era um esforço dele. Ele sempre foi obcecado em seguir uma carreira de escritor. Já tinha esse objetivo desde pequeno, quando aprendeu a escrever com a mãe”, define. 
“Tinha vontade de escrever de uma maneira mais simples. Quanto menos o leitor pensava a palavra mais ele atingia o objetivo dele”, comenta. Bernardo ainda conta como o pai era uma pessoa generosa, interessada em gente simples. Ele saía pela noite distribuindo esmola, ajudava crianças em necessidade e sempre se dispunha a estar presente para quem precisasse. “Gostava muito das pessoas simples, jornaleiro, porteiro, perguntava como estava a família. De pessoas famosas, ele se esquivava. Era uma pessoa muito simples. Era muito presente, era espontâneo dele”, acrescenta.

Cristina Souza, doutoranda da Faculdade de Letras e servidora da UFMG, que ministra o curso “Introdução à vida e obra do escritor Fernando Sabino”, lembra que Sabino passou sua infância e parte da juventude na capital. “Ele fez parte da segunda geração de escritores modernistas de Belo Horizonte e com eles aprendeu suas primeiras lições literárias. Sabino, apesar de ter saído de BH aos 21 anos, sempre teve Minas Gerais e BH, principalmente, como tema literário,  nos romances, nos contos e histórias”, conta.

A doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professora aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais, Lucilia de Almeida Neves Delgado, explica, no artigo “Cidade, memória e geração: a Belo Horizonte de Fernando Sabino”, como a relação do escritor com a BH de sua época ocorreu de mãos dadas com sua literatura. “De fato, a capital dos mineiros, visitada e arejada pela modernidade tardia nos idos da década de 1940, era ainda uma cidade provinciana, cravada no coração de um Estado bastante tradicional. Essa Belo Horizonte funcional e positivista, sob a batuta de JK, foi convocada a se renovar e a abraçar as demandas de transformação modernizadora que contagiavam o Brasil à época do Estado Novo. Entre a pulsão da modernidade e o terreno seguro do conservadorismo, a cidade oscilou. Durante muito tempo, ora se deixou seduzir pela atração inevitável do novo, ora se deixou abraçar pela segurança de tradições seculares”, diz o artigo. 

“A Belo Horizonte paradoxal da década de 1940 e o Rio de Janeiro dos anos subsequentes. Eis os cenários do livro O encontro marcado de Fernando Sabino. O Brasil otimista e efervescente da segunda metade dos anos 1950. Eis o tempo de publicação de importantes clássicos da literatura brasileira contemporânea: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; A maçã no escuro, de Clarice Lispector; Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto e O encontro marcado, de Fernando Sabino. Esses livros podem ser considerados como reais expressões de uma época caracterizada por grande vitalidade literária e pelo encontro/desencontro, naturalmente conflituoso, mas também estimulante, entre a tradição e inovação”, define a professora Lucilia.

Biografia

Fernando Tavares Sabino nasceu em Belo Horizonte em 12 de outubro de 1923 e morreu, aos 80 anos, um dia antes de seu aniversário de 81, no Rio de Janeiro. Sabino foi cronista, romancista, contista, jornalista e editor. Estudou, desde os 7 anos, em 1930, no Grupo Escolar Afonso Pena, onde cursou todo o primário e conhece o amigo Hélio Pellegrino (1924 – 1988), com quem, mais tarde, ao lado de Otto Lara Resende (1922-1992) e Paulo Mendes Campos (1922-1991) – também amigos desde a juventude -, forma uma espécie de quarteto literário.

Em 1936, ano de ingresso no curso secundário do Ginásio Mineiro, publica seu primeiro texto, em revista da Secretaria de Segurança de Minas Gerais. Aos 15 anos, tornou-se colaborador regular das revistas Alterosa e Belo Horizonte, publicando artigos, crônicas e contos. Nadador do Clube Atlético Mineiro, venceu os campeonatos que participou em 1939 com méritos. Sabino ingressou na Faculdade de Direito de Belo Horizonte e no serviço militar em 1941, quando também publicou seu primeiro livro, a reunião de contos Os Grilos Não Cantam Mais, e se tornou redator da Folha de Minas, por indicação do também escritor Murilo Rubião (1916-1991). 

Em 1944, Sabino se mudou para o Rio de Janeiro e se transferiu para a Faculdade Nacional de Direito curso. Em 1946, ele concluiu o curso e, no mesmo ano, se mudou para Nova York, trabalhando no Escritório Comercial do Brasil e, posteriormente, no consulado brasileiro. Até 1948, quando retornou ao Rio, enviou crônicas para Diário Carioca e O Jornal. Seus textos são reproduzidos em diversos veículos do país a partir do ano seguinte, consolidando seu nome como um dos renovadores do gênero, ao lado de Rubem Braga (1913-1990), inicia colaboração diária no Jornal do Brasil em 1960, que mantém até 1976. Com Braga, inaugurou, naquele mesmo ano, a Editora do Autor – da qual saiu em 1966 e fundou a Editora Sabiá. 

Em 1971, em parceria com David Neves, começa uma série de documentários cinematográficos sobre escritores brasileiros, que é lançada em 2006 como uma coletânea de curtas em DVD. Vinte e três anos depois de seu primeiro romance, publicou o segundo, O Grande Mentecapto, em 1979, retomando a redação iniciada 33 anos antes, em 1946. Em 2005, a família de Sabino fundou o Instituto Fernando Sabino, dedicado a manter viva a história do escritor. Em 2018, foi inaugurado em Belo Horizonte um espaço permanente de exposição dedicado a Sabino, o Espaço Cultural Encontro Marcado.

Celebração em Minas

O centenário do escritor Fernando Sabino é celebrado pelo governo do Estado desde quarta-feira (11) em Minas Gerais, um dia antes do aniversário de 100 anos do artista mineiro. A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) homenageará Sabino com uma comemoração nacional voltada às obras do cronista e poeta. A iniciativa faz parte do Minas Literária, programa que busca incentivar a leitura e fortalecer a cadeia produtiva do livro, conforme a pasta. 

A celebração é realizada na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Às 19h, haverá uma solenidade de abertura do Ano de Fernando Sabino, com a presença de Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino. A programação da Biblioteca contemplará duas exposições, cortejo musical, espetáculos, oficinas e exibição de documentário. 

As ações começam logo pela manhã desta quarta-feira, às 9h, na Biblioteca com a abertura da mostra “O Encontro Marcado na Hemeroteca Histórica: 100 anos de Fernando Sabino”, no 3º Andar do prédio principal, localizado na Praça da Liberdade. Serão apresentados jornais e revistas históricos sobre o escritor até 17 de novembro.  

A segunda exposição, “Encontro Marcado com Fernando Sabino”, será inaugurada durante a solenidade, às 19h, no 2º andar do prédio, no Hall das Coleções Especiais. A coleção traz livros autografados pelo artista multifacetado, que também foi diretor de cinema, jornalista, baterista de jazz e até nadador.

Obras

  • Os grilos não cantam mais – contos (1941 – Pongetti)
  • A marca – novela (1944 – José Olympio)
  • A cidade vazia – crônicas e histórias (1950 – NY)
  • A vida real – novelas (1952, Editora A Noite)
  • Lugares comuns – dicionário (1952, Record)
  • O encontro marcado – romance (1956, Civilização Brasileira)
  • O homem nu – crônicas (1960, Editora do Autor)
  • A mulher do vizinho – crônicas (1962, Editora do Autor)
  • A companheira de viagem – crônicas (inclusive crônicas de viagens) (1965, Editora do Autor)
  • A inglesa deslumbrada – crônicas (inclusive crônicas de viagens) (1967, Sabiá)
  • Gente I e Gente II – crônica sobre personalidades com quem Fernando Sabino teve contato (1975, Record)
  • Deixa o Alfredo falar! – crônicas (1976, Record)
  • O Encontro das Águas – crônicas sobre uma viagem à cidade de Manaus/AM (1977, Record)
  • O grande mentecapto – romance (1979, Record)
  • A falta que ela me faz – crônicas (1980, Record)
  • O menino no espelho – romance (1982, Record)
  • O Gato Sou Eu – crônicas (1983, Record)
  • Macacos me mordam (1984, Record)
  • A vitória da infância (1984, Editora Nacional)
  • A faca de dois Gumes – novelas (1985, Record)
  • O Pintor que pintou o sete (1987, Berlendis & Vertecchia)
  • Martini Seco – romance policial (1987, Ática)
  • O tabuleiro das damas – autobiografia literária (1988, Record)
  • De cabeça para baixo – crônicas de viagens (1989, Record)
  • A volta por cima – crônicas (1990, Record)
  • Zélia, uma paixão – biografia (1991, Record)
  • O bom ladrão – novela (1992, Ática)
  • Aqui estamos todos nus (1993, Record)
  • Os restos mortais (1993, Ática)
  • A nudez da verdade (1994, Ática)
  • Com a graça de Deus (1995, Record)
  • O outro gume da faca – novela (1996, Ática)
  • Um corpo de mulher (1997, Ática)
  • O homem feito novela (originalmente publicada no volume A vida real, cf. acima) (1998, Ática)
  • Amor de Capitu – recriação literária de Dom Casmurro (1998, Ática)
  • No fim dá certo – crônicas (1998, Record)
  • A chave do enigma (1999, Record)
  • O galo músico (1999, Record)
  • Cara ou coroa? (2000, Ática)
  • Duas novelas de amor – novelas (2000, Ática)
  • Livro aberto – Páginas soltas ao longo do tempo – crônicas, entrevistas, fragmentos, etc. (2001, Record)
  • Cartas perto do coração – correspondência com Clarice Lispector (2001, Record)
  • Cartas na mesa – correspondência com Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino (2002. Record)
  • Os caçadores de mentira (2003, Rocco)
  • Cartas a um jovem escritor e suas respostas (2003, Record)
  • Os movimentos simulados (2004, Record)
  • Bolofofos e finifinos (2004, Ediouro)

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