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Juiz de Fora tem menos de 30% da população com empregos formais

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Segundo o levantamento, 169.331 pessoas estão em vaga formal na cidade (Fernando Priamo/Arquivo TM)

De acordo com o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de pessoas ocupadas em Juiz de Fora é de 29,32%. Essa porcentagem tem como base o Cadastro Central de Empresas (Cempre) de 2021 e considera apenas trabalhadores formais, ou seja, aqueles com carteira de trabalho assinada. Segundo o levantamento, 169.331 pessoas estão empregadas na cidade.

Embora o percentual possa parecer baixo, o índice não é suficiente para indicar que Juiz de Fora possui um alto índice de pessoas desocupadas. O representante do IBGE na cidade, Júlio César Gomes, explica que o Cempre leva em consideração a população total do município, não apenas a população com idade para trabalhar. Além disso, o cálculo foi feito com base na estimativa populacional de 2021, que previa 577.532 pessoas para Juiz de Fora. No entanto, com os dados do Censo de 2022, verificou-se que o número de habitantes da cidade é menor, 540.756 pessoas.

Júlio também ressalta que parte relevante das informações disponibilizadas pelo Cempre é autodeclarada pelas empresas. Ou seja, os próprios empregadores repassam ao cadastro o número de contratados e outros valores, como o rendimento mensal. Para obter uma conclusão mais precisa sobre o número de pessoas ocupadas e desocupadas em Juiz de Fora, portanto, será necessário aguardar os dados do Censo de 2022, coletados ao longo dos últimos anos.

Outros levantamentos realizados pelo IBGE fazem um recorte mais “justo” em relação à população ocupada, afirma Júlio. É o caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). “Infelizmente, os dados da Pnad não são coletados a nível municipal, apenas em capitais e outras regiões metropolitanas.” Na Pnad, o nível de ocupação é calculado levando em conta pessoas com idade de trabalho, ou seja, com 14 anos ou mais e ocupadas na semana de referência da pesquisa. Isso proporciona um recorte mais próximo da realidade em comparação aos dados do Cempre. Além disso, na Pnad, crianças e aposentados não entram no âmbito comparativo, o que faz uma diferença significativa.

Crescimento de empregos em Minas

Ao olharmos os dados da Pnad relativos a Minas Gerais, o cenário de empregabilidade é positivo. Conforme a pesquisa, o estado fechou 2023 com uma taxa de desocupação de 5,8%, abaixo da média nacional, que é de 7,8%.

De acordo com o economista da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Rafael Campos, com base na Pnad Contínua, o Brasil tem mostrado avanços significativos na geração de empregos, com a taxa de desocupação atingindo o menor patamar desde 2014. “Isso reflete ainda uma recuperação do mercado de trabalho após o impacto da pandemia da Covid-19. Resultados positivos como este também foram apresentados em 2022. De qualquer forma, a tendência para os próximos anos é positiva.”

Apesar disso, o pesquisador ressalta que uma das heranças deixadas pela pandemia é a informalidade. Em Minas, conforme a Pnad, o índice de informalidade é de 37%, um valor expressivo, mas que segue abaixo da média nacional, que é de 39%. O IBGE considera informais os empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada, empregados domésticos sem carteira, empregadores sem registro no CNPJ, trabalhadores por conta própria sem registro no CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

“Em municípios como Juiz de Fora, o crescimento da informalidade, assim como o aumento de trabalhos como PJ (Pessoa Jurídica) e MEI (Microempreendedor Individual), reflete tendências mais amplas do mercado de trabalho brasileiro. Essas formas de trabalho podem oferecer mais flexibilidade e responder a lacunas na geração de empregos formais”, afirma o economista.

Por mais que ainda não estejam disponíveis números locais acerca da informalidade, o valor apresentado pelo Cempre de 29,32% das pessoas em vínculo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) pode indicar uma forte presença de pessoas na informalidade. “Isso também mostra um declínio relativo do vínculo tradicional da CLT, por conta da busca por redução de custos por parte dos empregadores e a necessidade de adaptação dos trabalhadores a um mercado mais dinâmico e incerto”, afirma Rafael. Esse movimento, para ele, também pode ser influenciado pela transformação digital, pela reestruturação produtiva e pelas mudanças nas relações de trabalho.

‘Economia de bicos’

O economista traz o termo “economia de bicos” para se referir ao mercado de trabalho terceirizado, cuja prevalência é de contratos de curto prazo ou trabalhos de “freelance”, em oposição a empregos formais permanentes. Nesse sistema, os trabalhadores são contratados por tarefa e não têm vínculo empregatício tradicional, o que, por um lado, proporciona flexibilidade, mas também representa um perigo.

Em Juiz de Fora, essa economia é representada principalmente por entregadores e motoristas de aplicativo, conforme o especialista. Para ele, esses profissionais se tornaram parte essencial da economia local, especialmente após a pandemia da Covid-19. “Os entregadores e motoristas de aplicativo, embora beneficiem-se da flexibilidade e da possibilidade de gerir seus próprios horários, enfrentam desafios significativos, como a falta de segurança no trabalho, ausência de benefícios trabalhistas e a volatilidade dos ganhos.”

Além disso, existe uma dependência desses trabalhadores em relação às plataformas digitais, o que pode levar a uma relação de trabalho desigual, na qual as condições são amplamente determinadas pelas empresas que administram esses aplicativos. “Muitas vezes, o trabalhador não tem nem a quem recorrer ou reclamar. É um afastamento entre o explorador e o explorado que só faz perpetuar e aumentar a exploração.”

Recorte de cor e gênero

Alguns indicadores apontam para o crescimento na geração de empregos em Juiz de Fora, conforme registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O índice apresentou saldo positivo na criação de empregos formais em 2023, com a abertura de 3.841 postos de trabalho com carteira assinada. Esse número resulta das 65.992 admissões e 62.151 desligamentos ocorridos no período.

No entanto, é fundamental considerar que a questão do desemprego no Brasil se manifesta de maneira distinta quando analisamos recortes de gênero e raça.

A população negra, que inclui pretos e pardos, apresentou taxas de desemprego acima da média nacional em comparação com a população branca. Enquanto a taxa de desemprego para a população branca foi de 5,9%, os pretos enfrentaram 8,9% e os pardos 8,5%.

Entre homens e mulheres a discrepância também é significativa. Enquanto o país alcançou taxa de desocupação de 7,4% no último trimestre de 2023, a taxa das mulheres ficou em 9,2%, já a dos homens, 6%. Essa comparação significa que o desemprego das mulheres é 53,3% maior que o dos homens, a maior diferença registrada nos últimos 12 anos, desde 2012, quando a disparidade foi de 69,4%.

A professora do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Célia Arribas, destaca que, ao discutirmos a questão do desemprego no Brasil, é essencial considerar o recorte de cor e gênero. Isso ocorre porque grande parte dessa população é composta por mulheres jovens negras. ´”Pesquisas sociológicas indicam que essas mulheres, com idades entre 15 e 29 anos, enfrentam uma sobrecarga devido aos trabalhos de cuidado não remunerados. A falta de oportunidades e desenvolvimento educacional está diretamente relacionada à sobrecarga de responsabilidades domésticas, criando um efeito em cadeia.”

Célia explica que, de maneira geral, essas mulheres provêm de famílias pobres e periféricas, muitas das quais são chefiadas por outras mulheres. Enquanto mães e avós estão no mercado de trabalho, as mais jovens assumem a responsabilidade pelo trabalho doméstico e pelo cuidado das crianças, filhos e primos.

Essa realidade contrasta com outra parcela da população, composta por jovens adultos que optaram por especialização ou dedicam-se exclusivamente aos estudos.

“Juiz de Fora é uma cidade que atrai muitos jovens devido às suas universidades, sendo a maior delas a UFJF. Dentro do contingente de pessoas desocupadas, é possível que se enquadrem aquelas que, devido a um apoio financeiro familiar sólido, escolheram ingressar tardiamente no mercado de trabalho. No entanto, a maior parte desse grupo é composta por jovens da periferia, sem formação, que, para contribuir com a renda familiar, optam por empregos precarizados, sem vínculo formal.”

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