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Professor destaca a importância do Instituto Federal para Caratinga e região

Rui Gonçalves de Souza é um dos colaboradores do projeto

DA REDAÇÃO- Na última terça-feira (12), o Governo Federal anunciou a criação de 100 novos campi dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs). Dentre os municípios contemplados, está Caratinga. Além de Caratinga, os novos campi serão instalados em João Monlevade, Itajubá, Sete Lagoas, Caratinga, São João Nepomuceno, Belo Horizonte, Minas Novas e Bom Despacho.
A expectativa é de que os municípios de Bom Jesus do Galho, Bugre, Caratinga, Córrego Novo, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Imbé de Minas, Inhapim, Ipaba, Ipanema, Pingo-d’Água, Piedade de Caratinga, Raul Soares, Santa Rita de Minas, Santa Barbara do Leste, São Domingos das Dores, São João do Oriente, São Sebastião do Anta, Tarumirim, Ubaporanga e Vargem Alegre sejam beneficiados com a unidade com sede em Caratinga.
O Projeto Político Pedagógico Campus Caratinga – Minas Gerais contou com colaboração do professor caratinguense Rui Gonçalves de Souza, engenheiro de Produção, e da especialista em História Econômica do Brasil Nilceia de Souza Genelhu.
E foi justamente o professor Rui Gonçalves de Souza que o DIÁRIO entrevistou. Ele também é professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas. E nesta entrevista, destacou a importância deste tipo de instituto para o crescimento de uma região.
O senhor é um dos colaboradores deste projeto. Qual a importância de um Instituto Federal para uma região?
É construir na microrregião de Caratinga um centro de excelência na oferta do ensino de ciência, em especial as ciências aplicadas para que possa melhorar a vida da população da região.
O IF Caratinga através de suas práticas de ensino, pesquisa e extensão, pode colaborar com a consolidação e fortalecimento da economia da região no apoio, através da formação de profissionais, aos empreendimentos agrícolas, industriais, do setor de serviço, também de cooperativas de pequenos produtores, gerando emprego, renda e inclusão social. Da mesma forma será um ponto de irradiação de cultura, ao mesmo tempo que poderá dar suporte as manifestações da cultura local.
O IF Caratinga será implantado para estimular a pesquisa cientifica que possa ser aplicada para resolver os problemas da região, incentivar a produção cultural, o empreendedorismo, o cooperativismo, mas tudo isso sem tirar o foco na preservação do meio ambiente.

Qual a função deste tipo de instituto?

Os Institutos Federais são equiparados por lei às universidades federais. São instituições de educação superior, básica e profissional, especializados na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino. Então, o IF Caratinga em suas práticas de ensino agirá como se fosse uma Universidade Federal, podendo oferecer cursos de Graduação, Mestrados e até Doutorados. Inclusive, ser um espaço de produção de ciência, local de pesquisa científica e inovação para a sociedade. Uma diferença entre os IFs e as Universidades Federais é a oferta de ensino médio integrado a formação profissional, neste sentido, um indivíduo ingressante em um Instituto Federal poderá deslumbrar de uma trajetória de estudos que se inicia no ensino médio e poderá chegar até um doutorado. A promoção da integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior é um dos objetivos dos Institutos Federais
Outras possibilidades que surgem com o IF Caratinga estão nas atividades extensionistas protagonizadas pelos seus pesquisadores (professores e estudantes) com a transferência de conhecimento cientifico de forma aplicada a toda a microrregião de Caratinga, através de cursos e treinamentos de curta duração abertos para a sociedade.

Quais critérios são utilizados para escolha de um município para instalação de um Instituo Federal?

O critério principal é a cobertura que as práticas de educação possam alcançar, de preferência em cidades que são polos regionais. Da mesma forma, a falta em uma região de uma instituição pública de preparação de cidadãos para o mundo do trabalho e a identificação de uma demanda em potencial que possa contribuir para o desenvolvimento de uma região. Nós acreditamos que o Campus do IF Caratinga vai trazer muitos benéficos para a nossa microrregião e poderá se constituir em atrativo para que jovens e adultos das cidades no nosso entorno possam adquirir uma capacitação profissional, são esses os municípios que poderão usufruir do IF Caratinga:
Bom Jesus do Galho, Caratinga, Bugre, Córrego Novo, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Imbé de Minas, Inhapim, Ipaba, Pingo-d’Água, Piedade de Caratinga, Santa Rita de Minas, Santa Barbara do Leste, São Domingos das Dores, São João do Oriente, São Sebastião do Anta, Tarumirim, Ubaporanga, Vargem Alegre, Ipanema e Raul Soares.
Caso a instalação definitiva seja no local indicado pelo projeto aprovado no MEC, na extinta Fazenda Experimental do IBC, no Bairro das Graças, devido ser um local de passagem, de quem transita da região Sudeste para o Nordeste e vice-versa, poderá atrair estudantes de outras regiões do país.

Este projeto é de 2012, atualizado em 2017. Quais adaptações ele teria hoje?

Em uma avaliação preliminar, principalmente com os dados do último recenseamento do IBGE, podemos afirmar que a situação identificada em 2012 pouco se alterou. Por exemplo, o PIB per capita dos municípios da microrregião ao descontar o índice aproximado de 2,5 referente a inflação ente 2012 e 2023, houve pouca alteração. Em cidades como Caratinga, Piedade de Caratinga, Santa Barbara do Leste houve um leve crescimento do PIB per capita, no entanto, encontramos munícipios onde aconteceu o contrário, uma redução.
Em relação a quantidade de escolas de ensino médio, todas sem ofertar educação profissional, na região de cobertura prevista pelo projeto educacional do IF Caratinga, em 2010, segundo o IBGE eram 56 estabelecimentos, em 2021 esse número chegou a 61 estabelecimentos. Quanto ao número de matriculas em 2010 era 10.239 estudantes, em 2021, esse número foi de 10.209 estudantes, uma alteração muito pequena no número de matrículas. No entanto se considerando que em torno de um terço destes estudantes vão para o mercado anualmente, já que são três anos de formação, avaliamos que em torno de 3.000 estudantes continuam saindo da escola pública em nossa região sem que o Estado brasileiro tenha lhe dado uma chance de qualificar.
Agora, em relação aos setores econômicos identificados os números são mais consistentes, reforçando que o mapeamento das possibilidades identificadas em 2012, se potencializaram. Só para destacar no setor do Agronegócio o crescimento do valor dos produtos negociados no CEASA de Caratinga são 5 vezes maiores se comparar entre 2011 e 2021, ou seja, em 10 anos, considerando um índice de 2,3 de correção devido a inflação, o valor da produção comercializada é mais que o dobro. Segundo a direção da CEASA em Caratinga, em 2021 o valor comercializado foi de R$ 203 milhões. Outro setor identificado como potencial é o da logística e varejo atacadista onde podemos destacar a forte expansão nos últimos anos da DPC com seus centros de distribuição Brasil afora, no entanto com sua base em Caratinga. Outro aspecto a observar é a incipiente industrialização do café, o número de pequenas torrefações com marcas próprias mais que dobraram na região, é só dar uma olhada nas prateleiras de supermercados na região.

Interessante observar que após 12 anos esse projeto será posto em prática. Em sua avaliação, porque isso aconteceu somente agora?

Em 2012, apesar desse projeto ter chegado em mãos do Ministro da Educação, estivemos em audiência em Brasília, havia uma corrente política na região com a convicção de que a cidade é contemplada com o empreendedorismo privado em educação e que não precisaria da presença de uma Instituição Federal de Ensino na região, engavetaram o projeto. Inclusive, na época, o Ministro da Agricultura Antônio Andrade deixou bem claro, em uma visita a Caratinga, que não poderia transferir a extinta Fazenda do IBC no Bairro das Graças para um Instituto Federal, pois não gostaria de entrar em desacordo com políticos da região, contra a vida do IF para Caratinga.
No final do ano passado fomos procurados pelo deputado Leonardo Monteiro, que mais uma vez assumiu a linha de frente na perspectiva de conseguir a construção do IF Caratinga. Pelo que estamos vendo, o projeto apresentado atendeu as expectativas. Entre mais de 100 cidades solicitando no MEC em Brasília um Instituto Federal, Caratinga foi uma da oito escolhida.

O projeto aponta possíveis locais para instalação do IF. Em sua avaliação, qual seria o melhor lugar?
No mapeamento do potencial para o desenvolvimento econômico da região, entre as áreas identificadas está o Agronegócio e a Agroindústria, onde destacam cursos técnicos e superiores na produção de hortaliças e cafeicultura, neste sentido, haverá a necessidade de terras para os cultivos experimentais. A extinta fazenda do IBC com 70 hectares está sendo utilizada somente com a ocupação de duas casas, onde trabalham 4 funcionários em atividades burocráticas de instituições pública, não ocupando 500 metros quadrados, ou seja, em torno de 69 hectares de terra pertencente ao povo brasileiro não está sendo utilizado. A propriedade foi utilizada da era Vargas até o Governo Colo como espaço para pesquisa de ponta na área de cafeicultura, o maior centro de pesquisa especializado em café do mundo, que foi sem nenhuma explicação plausível encerrado. O DNA desta propriedade é produção de ciências por isso é indicado para receber uma instituição que produz conhecimento e pesquisa científica.

Quais cursos devem ser ofertados no IF de Caratinga?

No mapeamento das potencialidades que são apresentadas no projeto que foi apresentado ao Ministério da Educação as áreas potenciais são Agronegócio; Agroindústria; Comércio Varejista e Atacadista; Comércio e Serviços automotivos. Quanto aos cursos indicados para a abertura do Campus são:
– Tecnólogo em Cafeicultura;
– Tecnólogo em Gestão do Agronegócio;
– Tecnólogo em Hortaliças;
– Engenharia de Produção;
– Técnico em Agroindústria;
– Técnico em Secretariado;
– Técnico em Mecânica de Automóvel.
O curso Técnico em Mecânica de Automóvel é para atender uma demanda social específica, boa parte dos primeiros empregos da população de baixa renda em Caratinga é no setor e como jovens aprendizes, oferecer uma formação específica voltada para essa camada da população é uma forma de inclusão social.

O senhor disse que a instalação deste instituto em Caratinga é uma ‘reparação histórica’. Poderia nos explicar esta sua análise.

Caratinga até os anos 1980 possuía um aparato de instituições públicas do Governo Federal. Quem vivia nessa cidade, nessa época, convivia com técnicos, engenheiros, pesquisadores do antigo DNER do Ministério do Transporte, do Ministério da Saúde a SUCAM, agrônomos, biólogos e outros pesquisadores do Instituto Brasileiro do Café. Da extinta Rede Ferroviária Federal havia os funcionários da Leopoldina que tinha uma linha de trem que se conectava diretamente ao Porto do Rio de Janeiro. Todo esse aparato foi paulatinamente sendo destruído. Na Fazenda do IBC havia pesquisas de ponta em termos de melhoria do café brasileiro. Assim como retiraram, às pressas, a linha de trem numa narrativa de que haveria de reduzir a presença do estado brasileiro na economia, passou-se o trator em cima e destruíram anos de pesquisas na Fazenda do IBC. Tem-se a impressão que o Estado Brasileiro virou a costa para a cidade. Aproveitar de um terreno que sobrou e que no passado era um espaço de produção de pesquisa científica, incentivador do desenvolvimento da cafeicultura no Brasil é transformar esse espaço, novamente, em uma Instituição de pesquisa, também de ensino e extensão, essa é uma questão moral, devolver para a cidade parte do que foi dela retirado.

Sendo uma das pessoas que colaborou com o projeto, como o senhor se sentiu com este anúncio?

Como acadêmico, pesquisador a nossa utopia é ver a vida das pessoas melhorar. O meu sentimento, me leva a lembrar de onde vim, nasci na beira do Rio Manhuaçu, em Santo Antônio distrito de Caratinga. Minha geração em Caratinga foi criada para ir embora, já que na região nos anos 1970 e 1980 não havia escolas para quem quisesse ser alguém na vida. Acabei indo para o Rio de Janeiro no início da minha juventude, onde consegui estudar engenharia de produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro, depois fiz mestrado e doutorado na PUC-Rio. Após um longo período trabalhando na indústria de moda e móveis hoje sou servidor público professor no Instituto Federal. Quase todas as minhas conquistas foram sozinhas, distante da minha terra e da minha família, um imigrante. A minha esperança é que as novas gerações não precisem de ir embora de suas cidades, que possam conseguir suas formações profissionais ao lado de seus amigos de infância, da família, e não precisem imigrar para conseguir os meios de sobrevivência. Bom é isso!

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