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Silas Dias Costa, um dos homens que mais contribuiu para o desenvolvimento agropecuário no Leste de Minas

GOVERNADOR VALADARES – No dia 30 de setembro, estive na Fazenda Bela Vista, na zona rural de Valadares. Lá tive a honra de conhecer e entrevistar o senhor Silas Dias Costa.

De sobrancelhas fortes, olhos claros e uma força e vigor exemplares, foi difícil acreditar que ele completaria 90 anos de idade, no dia 5 de outubro. O tempo, aliás, parece ser um simples detalhe na vida dele. Isso porque ele viu a cidade nascer e conheceu todos os prefeitos que Valadares teve. O homem é uma enciclopédia. Uma biblioteca de conhecimento sobre tudo que você puder imaginar. Sabe de política e até a velocidade em que a Terra gira em torno de sua órbita.

Um dos motivos é que em sua humilde, mas linda casinha de 105 anos, o produtor rural coleciona livros, troféus de concursos leiteiros da Cooperativa e, agora, já afastado da vida louca da cidade, desfruta um pouco da modernidade. Isso mesmo! Ele ama documentários e sempre se comunica por videochamadas com os filhos. Em outras palavras, mantém a tradição de se informar tanto off-line como on-line.

Nesse bate-papo, que começou com saborosas pitangas, passando por queijo, café, requeijão e um banquete, no qual, ele mesmo preparou três tipos de carne, como de costume no interior mineiro, falamos sobre sua trajetória, trabalho, política e os segredos do sucesso. Portanto deleite-se dessa entrevista fantástica.

FRED SEIXAS – O senhor nasceu em Valadares, senhor Silas?

SILAS DIAS COSTA – Sim. E conheci todos os prefeitos da cidade. Se você me perguntar eu tenho a lista de todos os nomes dos prefeitos que governaram a cidade. Conheci todos eles. Do Moacir Paleta até o André Merlo. O André, inclusive, eu apoiei.

FRED SEIXAS – Em sua opinião, então, quais foram os melhores prefeitos que a cidade já teve?

SILAS DIAS COSTA – Para mim foram dois: o Ladislau Salles (1955) e o Raimundo Rezende (1977). E aproveitando também vou falar quem foram os piores. Pra mim foram o Paulo Fernando (1993) e a Elisa Costa (2009). Esses dois foram péssimos, na minha opinião.

FRED SEIXAS – E o senhor cresceu e educou seus filhos através da produção rural?

SILAS DIAS COSTA – Sim. Trabalhei com produção de leite minha vida toda. Estudei apenas o ginásio, mas consegui formar meus quatro filhos. Todos eles têm faculdade, assim como meus netos. Meu filho, Silas Dias Costa Júnior, se formou em Agronomia, em Viçosa, e me ajudou um bom período aqui na fazenda, durante um período que me dediquei ao cooperativismo.

FRED SEIXAS – E de onde vieram os ideais cooperativistas que o senhor possui?

SILAS DIAS COSTA – Daqui [disse apontando para a cabeça]. Eu não fiz faculdade, mas sempre gostei muito de ler. Então li vários livros didáticos sobre o campo, geografia, clima, biografias e fui aprendendo e vendo a necessidade que tínhamos no campo. Uma coisa foi levando à outra. Daí, fui convidado para participar da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce. A princípio fiz parte do Conselho Fiscal, junto com o Décio Nascimento Gomes. Fizemos um bom trabalho no conselho e passamos a ser respeitados. Muita gente me subestimava nessa época.

FRED SEIXAS – E depois, o que aconteceu na vida do senhor?

SILAS DIAS COSTA – Eu fui eleito em 1974, junto com o Décio Nascimento e o Clovis Alves, para a diretoria da CERDO [Companhia de Eletrificação Rural do Vale do Rio Doce]. Naquela época a gente não tinha energia nas fazendas. Não podíamos usar uma máquina, não tinha irrigação. Era tudo manual e bem atrasado. Então foi criado em Minas a ERMIG, que era uma subsidiária da CEMIG, para levar eletrificação rural aos produtores. Mas a gente tinha que ter cooperativas. Daí nasceu a CERDO, na qual fiz parte da diretoria. A gente se reuniu, éramos um grupo de 40, e no fim apenas 8 toparam. Eu, José Miguel Merlo, o Dr. José Lucca e outros compramos os cabos e equipamentos necessários. Foi aí que começou a chegar a luz na casa dos produtores da região.

FRED SEIXAS – E como isso contribuiu para o desenvolvimento?

SILAS DIAS COSTA – Ah! Sem energia a gente estava parado no tempo. Imagina como era não ter irrigação, não ter uma máquina para moer cana, ração…A gente fazia tudo na mão. Era um atraso. Geladeira era a querosene e nem gelava direito…Então foi um divisor de águas.

FRED SEIXAS – E isso contribuiu para o senhor retornar depois para a Cooperativa?

SILAS DIAS COSTA – Sim. Nós [eu, Décio e Cloves] fizemos um trabalho excelente à frente da CERDO e tínhamos sido bons conselheiros na Cooperativa, anteriormente. Daí, voltei como diretor comercial na gestão de Eurípedes Ignácio de Lima e Antônio Alves, em 1977. O Eurípedes foi um presidente extraordinário. Aliás, era um ser humano diferenciado. Ele abria mão da própria imagem para promover os colegas.

FRED SEIXAS – E como foi esse período?

SILAS DIAS COSTA – Fiquei na diretoria da Cooperativa por 10 anos. Primeiro como diretor comercial e depois como presidente, por dois mandatos. Fizemos um trabalho de modernização. Antes o leite era vendido em carroças pelas ruas da cidade. Começamos a mudar a maneira de trabalho. A gente vendia todo nosso leite captado para a CCPL [Cooperativa Central de Produtores de Leite], mas não podíamos ficar na mão dela. Então nossa turma deu início ao processo de industrialização do leite. A marca Ibituruna já existia. Se não me engano ela foi criada bem antes pelo Luiz Côrtes. Mas com as mudanças que fizemos, a Cooperativa passou a ser a segunda maior de Minas Gerais. Nossa meta era produzir não apenas o leite, mas produtos agregados, inclusive, carne e couro. Por isso compramos o antigo frigorífico T Maia, onde hoje funciona a Cooperativa. Ele chegou a ser o segundo maior frigorífico da América Latina. Mas por questões políticas o dono decidiu desativá-lo e investir na Austrália. Na época compramos ele por 350 milhões, com um entreposto no Rio de Janeiro. Depois vendemos só o entreposto por 300 milhões. Com o Plano Collor a dívida que tínhamos caiu para 17 milhões. Então acabamos fazendo um grande negócio.

FRED SEIXAS – E como foi para os produtores esse período?

SILAS DIAS COSTA – Foi muito bom. A gente investiu pesado nos produtores. Antes a Cooperativa investia 10% no FATES [Fundo de Assistência Técnica e Social]. Nós aumentamos para 20%. Através do FATES, os produtores eram assistidos de diferentes maneiras. A gente fazia cursos, viajava para aprender sobre cooperativismo e levava aos produtores atendimento médico e odontológico. Nós tínhamos um trailer que tinha uma equipe médica. Eles iam de fazenda em fazenda atendendo os produtores e suas famílias. Também criamos uma espécie de convênio de saúde para os produtores. O FATES também era usado para a educação. Através dele, por exemplo, o Marcelo Abrantes, que eu trato como se fosse meu filho, conseguiu se formar em Engenharia Agronômica. Depois ele foi nosso agrônomo por muitos anos e foi um dos fundadores do curso de Agronomia na Univale. Vários filhos de produtores rurais se formaram com o FATES. E isso foi trazendo conhecimento, agregando à Cooperativa e trazendo conhecimento para o Vale do Rio Doce. Nós que iniciamos o projeto de melhoramento genético da bacia leiteira do Leste de Minas. Tenho orgulho de dizer que se há uma vaca hoje, com melhoria genética, passou pelas nossas mãos.

FRED SEIXAS – O senhor também contribuiu para a criação de cooperativas de crédito na região?

SILAS DIAS COSTA – Sim. A gente tinha ouvido falar de cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul. Na época, o Naves [Antônio] era diretor financeiro da Cooperativa. Me ofereceram uma viagem para conhecer esse sistema na Alemanha. Achei melhor ele ir no meu lugar. Ele ficou lá por alguns dias e voltou com novas ideias. Aí fundamos a Cooperativa de Crédito Mútuo e depois a Cooperativa de Crédito Rural do Rio Doce, que se tornou, depois, o Sicoob Crediriodoce. O Luiz Côrtes foi o fundador. Era um homem solidário, muito sério.

FRED SEIXAS – E na vida política? Devem ter vindo vários convites para participar…

SILAS DIAS COSTA – Convites aconteceram. Mas como a gente é produtor rural, a gente acaba sendo subestimado. Mas tive a honra de ser presidente por 6 meses, de forma voluntária, sem receber um centavo, da antiga Fushosp [Fundação Serviço Hospitalar de Governador Valadares]. Isso foi durante o mandato do prefeito Ruy Moreira (1989). Ele vai ficar com raiva que não o coloquei como o melhor prefeito de Valadares, mas ele é meu amigo. Naquela época o Hospital Municipal estava um caos. Os funcionários não recebiam, não tinha dinheiro pra nada. Nem lençol tinha para os pacientes. Então o Ruy Moreira me convidou para presidir a Fushosp. Esse foi o trabalho que mais me orgulho de ter participado por ter ajudado pessoas. Vi seres humanos chegando doentes e saindo curados. Mas como o hospital estava falido, convoquei os produtores rurais para a gente fazer alguma coisa. Nós conseguimos mais de 600 cabeças de gado de doação. Daí a gente leiloou os animais e colocamos o dinheiro todo no hospital. Com isso a gente foi pagando funcionários, fornecedores e zeramos a dívida que o hospital tinha. O Afrânio Chaves, que era um produtor da cidade, ele sozinho deu 1.500 lençóis para o hospital, além de gado e um cheque assinado pra gente colocar o valor. Ele ajudou demais.

FRED SEIXAS – E nunca te chamaram para ser candidato a prefeito?

SILAS DIAS COSTA – Já, mas eu não quis. Começaram com essa conversa porque eu estava sempre na mídia, como presidente da Cooperativa. Mas eu precisava voltar para a fazenda e continuar sendo o que sempre fui: produtor rural. Daí numa conversa sobre me lançar candidato eu fui bem sincero. Eu disse: só aceito ser candidato se me permitirem contratar uma empresa de auditoria externa para auditar a prefeitura. Com isso desistiram de me convidar [risos].

FRED SEIXAS – E qual o segredo do sucesso? Que conselho o senhor daria para os novos produtores e empreendedores?

SILAS DIAS COSTA – O segredo é ser sempre honesto. Se você é honesto, ninguém te atrapalha ou toma seu lugar. Além disso, a gente precisa ser corajoso. Esse negócio de ficar em cima do muro não é comigo. Sempre falei a verdade e nunca tive medo de falar nada, independentemente da pessoa que estiver ouvindo.

6 Comentários

  1. Cara, esse tal de Silas Dias Costa realmente é um mito da agropecuária no Leste de Minas, hein? Incrível como ele conseguiu transformar a região!

  2. Caramba, esse tal de Silas Dias Costa é mesmo um cara incrível! Quem diria que ele seria um dos maiores nomes no desenvolvimento agropecuário no Leste de Minas? É impressionante o impacto que uma pessoa pode ter nesse setor. Parabéns pra ele!

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